Eu nunca roubei um livro. Aliás, nunca roubei nada. Já fui roubada algumas vezes, isso sim.
Quando eu tinha 11 anos , peguei uma caneta de quatro cores no escritório do meu tio e a levei comigo, “ele tem tantas, acho que não tem problema”. A caneta era linda, nunca tinha visto uma daquelas, era novidade. Eu sempre fui louca por canetas. Aquela ficou queimando no meu bolso no caminho até a minha casa. Não suportei: voltei por cima do rastro, suando, rezando para que ele não tivesse dado falta, queria colocar a caneta de volta no mesmo lugar. Consegui. Entrei e saí sem ninguém notar a minha presença.
Essa foi a minha única tentativa arrependidíssima de furto. É um sentimento péssimo, que jamais quis repetir. Ainda menina, aprendi a jamais querer nada dos outros. Se eu tivesse pedido a caneta ao meu tio, com certeza ele teria me dado. No entanto, esta é outra coisa que nunca aprendi: pedir.
Desde já, digo que roubar coisas de pequeno ou grande valor, é absolutamente reprovável. Roubar um livro é coisa ruim também, o dono da livraria não deve achar nenhuma graça; a biblioteca pública fica desfalcada e a biblioteca familiar, idem. Mas, esse é um tipo de furto moralmente menos daninho.
Uma vez, um aluno roubou um livro em cima da minha mesa. Era uma primeira edição de “Vergonha dos pés” , recém- lançada (1995), romance de estreia de Fernanda Young (1970-2019). Sorte que já tinha terminado de ler. A narrativa conta a história de Ana, uma estudante de Letras. Qualquer dia vou deixar uma resenha aqui. Pobre Fernanda, uma triste fatalidade tê- la perdido tão cedo!

Eu vi de longe o aluno pegar o livro e colocar entre os seus livros didáticos doados pela escola pública. Sabia que era um aluno muito pobre e apaixonado por literatura, excelente leitor. Ele podia ter me pedido, mas como eu, podia ter dificuldades com isto, como eu. Eu não lhe disse nada até passar um mês:
– Gostou do livro?
– Que livro, pró?
O que você pegou em cima da minha mesa. Se terminou, passa para outro aluno, ok?
Ruborizado, pediu- me desculpas. “Eu só queria emprestado”.
Emprestei- lhe depois alguns mais. Sei que hoje, vinte e cinco anos depois, é escritor.
Lembro do conto de Clarice Lispector “Felicidade clandestina”. Vai ver este ex- aluno viveu a mesma felicidade que a menina do conto, quando teve entre mãos o tão sonhado “Reinações de Narizinho”. Ela não roubou, ela pediu e esperou pacientemente até consegui- lo. Quando quiser algo muito importante, peça. Ninguém é obrigado a saber o que é importante pra você.
Também lembro da obra “A menina que roubava livros” na Alemanha nazista, como condená- la? Há roubos que estão justificados. Lembra do ditado? “Ladrão que rouba ladrão…”
E você, já roubou um livro?
Comecei a pedir, antes tarde do que nunca: para mim é muito importante que você curta e compartilhe este texto nas suas redes sociais. Até breve!
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