Há muitos anos vem sendo reproduzido o poema “Instantes” como do poeta argentino Jorge Luis Borges. Basta olhar alguma antologia do escritor para comprovar que esse poema não existe entre seus escritos. O poema “rola” pela Internet e até em universidades com a autoria errada. Os versos são da americana Nadine Stair. A viúva de Borges, María Kodama, desmentiu a autoria do marido em relação ao poema há anos. Vamos desfazer de uma vez por todas esse equívoco? Possivelmente, o erro originou- se por causa da escritora Elena Poniatowska (francesa com nacionalidade mexicana) que atribuiu a autoria do poema a Borges num livro de sua autoria publicado em 1990. O livro foi retirado com o devido pedido de desculpas:
Elena Poniatowska, a “culpada”
Abaixo o polêmico poema com a sua autora correspondente:
Instantes (Nadine Stair)
“Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo”
Também apareceu circulando no FACEBOOK uma frase que está no Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, como sendo de Sigmund Freud, mas não sei se o Pai da Psicanálise leu o Dom Casmurro. A frase é a seguinte: “… dizia francamente a Pedro o mal que pensava de Paulo, e a Paulo o que pensava de Pedro; mas, confessar que mentira é que pareceu novidade” Cf. fl. 35. Dom Casmurro, Machado de Assis. Obras Completas. ED. GLOBO. 1997.
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Vou ficar atenta, Marluce. Se eu achar essa frase por aí já sei a procedência. Beijos! 🙂
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Talvez o fato de ter sido escrito usando o gênero masculino possa ter ajudado a causar a confusão, não? 😉
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Sim, pode ter sido também. Abraços!
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Eu li esse poema pela primeira vez há tempos e me surpreendi quando ao final vi o nome do Borges, até por não combinar com o estilo dele e, ao ver recentemente alguém publicar no facebook como sendo dele, disse, não sei de quem é, mas do Borges eu sei que não é. rs
Agora sei a autora. Grazie
bacio
Ps.Adoro Borges.
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Verdade, ele ainda rola com a autoria de Borges. Beijos!
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Também adoro Borge, beijos!
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O que seria de nós sem a Internet e sem os livros.
Obrigado por esclarecer tamanho equívoco. Mas, o bom é que, seja lá de quem for, nos toca da mesma forma.
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Li esse poema a uns dez anos atrás ,hoje quando me sinto triste por algo o leio me faz muito bem
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